Quando pensamos no preço do tomate, é fácil já imaginar ele na prateleira do mercado. Mas, por trás de cada fruto, existe uma jornada cheia de desafios até chegar ao consumidor, processo esse em que os produtores precisam equilibrar produtividade e rentabilidade. 

O tomate exige rapidez na comercialização, planejamento cuidadoso e decisões bem estruturadas para garantir um bom retorno ao produtor. Pensando em todas as particularidades envolvidas no mercado de HF, preparamos uma série de conteúdos em parceria com o CEPEA: “Da colheita ao mercado: desafios na comercialização de HF”, começando pela cultura do tomate. 

Neste artigo, vamos entender melhor os obstáculos e as oportunidades no mercado de tomates, com as perspectivas e orientações valiosas de João Paulo Deleo, pesquisador do CEPEA na área de hortaliças. Confira como foi essa conversa!

1. Como a perecibilidade do tomate afeta a comercialização e o preço?

O tomate é uma fruta extremamente perecível e, assim que atinge o ponto ideal de colheita, o tempo se torna um fator crucial. Mas como essa característica afeta a comercialização?

resposta João Deleo: “no caso do tomate, a maior perecibilidade do produto torna necessária uma comercialização bem mais rápida do que no caso da batata ou cebola, por exemplo. Os frutos maduros tendem a perder valor de mercado. Além disso, o risco de perda da produção, caso a colheita não seja efetuada em tempo adequado, é maior. Devido a essa característica e ao fato da maior parte da produção ser transportada em caminhões sem refrigeração, normalmente o “tomate anda pouco”, e a maior parte do que é produzido em uma determinada região não se desloca a grandes distâncias para sua comercialização. Assim, grande parte da produção de um determinado Estado costuma ser comercializada no próprio Estado ou próximo a ele. É uma das razões que explica o fato de haver uma produção tão pulverizada de tomate no país, com tantas praças produtoras.”

Essa realidade impõe um grande desafio para os produtores, que precisam lidar com uma logística ágil e complexa para que o produto chegue aos consumidores no tempo certo. 

2. Quais são os desafios enfrentados pelos produtores de tomate no período pós-colheita?

Após a colheita, vem um dos maiores desafios: a padronização do tomate. A classificação dos frutos é um processo importante, mas, como relata o especialista, ainda faltam regras claras no setor. 

resposta João Deleo: “no caso do tomate, o fruto não pode estar muito maduro, mas também não pode estar verde; o ideal são os “frutos coloridos”, e é claro, sem defeitos. Falta ao setor melhores regras de padrões de classificação, mas, em geral, no atacado o 3A tem maior valor de mercado, enquanto que, para o produtor, o 2A é o mais valorizado. Mas o grande desafio para os produtores está na comercialização, que se inicia com uma padronização – em muitos casos, o tomate não é nem pesado para a venda que um produtor faz. Há, na cadeia, uma divisão em subsistemas de comercialização (é um conceito subjetivo), onde há desde aqueles produtores que comercializam diretamente com grandes redes de varejo, enquanto outros têm uma comercialização mais informal, passando sua produção por atravessadores, conseguindo menor poder de barganha. Há também uma minoria de produtores de pequena escala, localizados próximos a grandes centros consumidores, que conseguem levar sua produção mais próxima dos consumidores, através de feiras locais, ou o atacado e varejo próximo.”

A questão da classificação impacta diretamente o valor de mercado e as opções de comercialização. Como explica o especialista, alguns produtores negociam diretamente com redes de varejo, o que lhes dá mais controle sobre os preços. Por outro lado, aqueles que dependem de intermediários podem ter menor poder de negociação e lucro reduzido. 

É interessante notar que, para alguns produtores próximos a grandes centros, há a vantagem de acessar mercados locais, como feiras e varejo, o que pode oferecer um retorno maior.

3. De que forma os produtores podem agregar valor ao tomate e se destacar no mercado?

Com o aumento da competitividade no setor, muitos produtores buscam alternativas para se destacar. Investir em variedades especiais de tomate pode ser uma saída para agregar valor ao produto e ampliar as margens de lucro.

resposta João Deleo: “hoje já é bastante comum haver as “especialidades”, que são variedades de tomate, de diversos tipos, que agregam valor ao produto, como, por exemplo, os tomates tipo grape, coquetel… É claro que, para isso, a estrutura de produção e comercialização muda, agregando custos, e, para isso, é necessário que haja uma compensação nos preços recebidos na venda. Como não há contrato, é importante entender que o produtor também está exposto aos riscos desse mercado.”

Essa tendência, embora seja promissora, traz consigo desafios e riscos, como tudo no agro. A produção de especialidades demanda investimento em uma estrutura que permita o cultivo diferenciado e a comercialização apropriada para um nicho específico. O retorno financeiro depende do mercado e da capacidade de manter preços atrativos, o que requer um bom planejamento.

4. Quais são as tendências de mercado e preços para o tomate nos próximos meses?

As oscilações de preço no mercado do tomate são constantes e dependem de diversos fatores, desde o clima até as decisões de plantio dos produtores. E, segundo o pesquisador da CEPEA, há uma expectativa de elevação dos preços no final de 2024.

resposta João Deleo: “[A tendência] é de alta a partir de outubro/24, já que, com os preços baixos desde meados de junho, produtores desaceleraram o ritmo dos plantios e também vêm erradicando parte das lavouras.”

Essas oscilações são comuns no setor e fazem parte do ciclo de produção, influenciando diretamente as decisões de plantio e até a quantidade de tomate disponível para o consumidor. Esse cenário apresenta uma oportunidade de melhores preços para quem se manteve no mercado e pode ser uma forma de recuperar o fôlego financeiro.

5. Por fim, uma mensagem final para o produtor de tomate: planejamento e resiliência

Com todos os desafios de comercialização, preço e logística, o planejamento se torna uma peça essencial no sucesso da produção de tomate. O especialista da CEPEA deixa uma mensagem importante para o produtor que busca se manter competitivo no mercado:

resposta João Deleo: “é importante que qualquer produtor tenha sempre um bom planejamento da sua produção e do seu negócio, para que não seja pego de forma desprevenida em momentos negativos, como esse cenário que a tomaticultura passa em 2024, e que há muitos anos não se via no setor. Quem se mantiver resiliente após esse período, certamente colherá bons frutos quando essa turbulência passar. Assim, além de uma eficiente gestão da produção, com o uso racional dos recursos, visando uma alta produtividade de boa qualidade e alto valor de comercialização, o produtor tem também que se preocupar com o seu modelo de comercialização (já citado nas questões anteriores), e sua gestão econômica. Mais importante do que uma produtividade alta, é ter o menor custo unitário e a maior receita líquida. Mas, para se chegar a esse resultado, tudo tem que ser muito bem planejado antes.

Além disso, muitos produtores de tomate costumam não ter um patrimônio imobilizado grande, mas possuem um alto fluxo de caixa, movimentando elevados recursos financeiros, o que torna imprescindível que façam provisões financeiras para conseguirem se manter resilientes nos momentos de crise, como esse vivido no momento.”

A comercialização do tomate envolve decisões estratégicas e muita agilidade, desde a colheita até o ponto de venda. Com planejamento, atenção às tendências e um olhar para as oportunidades, os produtores podem aumentar suas margens e se manter firmes diante dos riscos do mercado. 

Fique ligado na nossa série, pois, nos próximos conteúdos, vamos explorar os desafios da comercialização da cebola e da batata, compartilhando ainda mais insights para apoiar a sua produção!

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